quarta-feira, 31 de dezembro de 2008

Manifestantes protestam em frente a casa de Obama


notícias:


Um pequeno grupo de manifestantes pró-Palestina portando cartazes se reuniu terça-feira perto da casa em que o presidente eleito dos Estados Unidos, Barack Obama, está passando férias no Havaí para protestar contra os ataques de Israel em Gaza.

Obama não se manifestou publicamente sobre os ataques, que Israel lançou no sábado. Assessores disseram que ele está observando a situação e continua a receber informes de inteligência, mas que só existe um presidente no poder.


in: http://www.abril.com.br/noticias/mundo/manifestantes-pro-palestinos-protestam-frente-casa-obama-224051.shtml


terça-feira, 30 de dezembro de 2008

Leilões da ANP: quem está depredando o patrimônio público?

Leilões da ANP: quem está depredando o patrimônio público?

Por José Carlos Moutinho, jornalista da Associação dos Engenheiros da Petrobrás (AEPET)
Divulgação: Agência Petroleira de Notícias (www.apn.org.br)



Nesta quinta-feira (18/12), o Rio de Janeiro, mais uma vez, entrou para os noticiários nacionais e internacionais como um lugar onde as coisas mais incríveis podem acontecer, notadamente as que tem requinte de crueldade. E isso se deve ao fato de termos uma classe dirigente mesquinha, cruel, serviçal e apátrida, que não tem sentimento de Pátria e não respeita o povo brasileiro.

Do alto dos edifícios no Centro do Rio, coração econômico da cidade, foi possível constatar alguns tiroteios, brigas e correrias durante esta semana [15-19/12], envolvendo os mais diversos eventos, inclusive o de um menor de idade (desarmado) que levou um tiro no pé, após uma perseguição que envolveu seguranças privados e PMs. Era preciso conter um menor com um tiro, que pegou no pé? As coisas estão assim [desajustadas] no Rio...

Num outro extremo do Centro do Rio, na quarta-feira (17/12), mais de 500 pessoas organizaram uma manifestação pacífica no interior e na área externa do edifício-sede da Petrobrás. A manifestação durou o dia inteiro e se encerrou por volta das 20 horas com um belo entoar do Hino Nacional, seguido de uma ordeira caminhada pelas cercanias da estatal. Resultado: nenhum incidente ou violência qualquer. A manifestação foi democrática: os manifestantes protestaram contra os fatídicos e criminosos leilões da ANP (Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis) e a direção da Petrobrás evitou se comprometer com os manifestantes. Mas o dia foi de paz e dentro do maior respeito.

Já na quinta-feira (18/12), a coisa foi diferente. Os mesmos manifestantes, em caminhada pelo Centro do Rio, por volta das 12 horas, foram reprimidos com extrema violência pela Polícia Militar e pela Guarda Municipal. Resultado: cerca de 50 feridos e três pessoas detidas, levadas para 5ª Delegacia de Polícia [Emanuel Cancella, coordenador do Sindicato dos Petroleiros do Rio de Janeiro (Sindipetro-RJ); Gualberto Tinoco (Piteu), da Coordenação Nacional de Lutas (Conlutas); Thaigo Lúcio Costa, estudante de jornalismo da Universidade de Santa Cecília, de Santos]. A Agência Petroleira de Notícias – www.apn.org.br fotografou todas as cenas de violência.


Qual foi a acusação contra os manifestantes?

Depredação do patrimônio público!


Uma acusação infundada e estapafúrdia, pois sair em passeata pela avenida Rio Branco e ter de lançar tintas vermelhas no prédio da ANP e nos policiais, como forma de se defender da fúria e da selvageria deles, não significa depredar o patrimônio público

Ao consultar o dicionário da Língua Portuguesa, notadamente o prestigioso Aurélio, verificamos o significado de depredar: “V. t. d. 1. Destruir, assolar, devastar, talar. 2. Roubar, saquear, espoliar...”. Pelo dicionário Michaelis: “V. t. d. 1. Fazer presa em. 2. Devastar, saquear, pilhar”. Fazer passeata pela Rio Branco e jogar tintas sobre os agressores não se enquadram nestes verbetes. E o que dizer dos que estão leiloando o patrimônio público no interior da ANP?...

Podemos então chegar à conclusão de que os conceitos estão invertidos neste País, assim como invertidas estão as mentes de nossas autoridades, notadamente as da ANP, que prosseguem com os leilões e determinaram a violência contra a pacífica manifestação daqueles que foram às ruas em defesa da soberania da União sobre o petróleo (óleo e gás).

Pelos verbetes acima citados, fica constatado que depredação do patrimônio público são os leilões da ANP e a esdrúxula Lei 9478/97, que pelos artigos 26 e 60, respectivamente, dá posse e permite a exportação do petróleo extraído do subsolo brasileiro pelas empresas privadas, notadamente as multinacionais. Assim, o atual marco regulatório abre caminho para a pilhagem, a devastação, a espoliação e o saque do nosso estratégico petróleo, em detrimento dos interesses nacionais e do povo brasileiro. Ou seja, a ANP depreda um patrimônio público extremamente estratégico para o futuro do País e decisivo para resolver as disparidades sociais.

Essas “autoridades”, desesperadas com o fiasco da 10ª Rodada, determinaram a insana repressão sobre os militantes que defendem o País, exigindo destes o pagamento de fiança de mais de R$ 8 mil [na 5ª DP]. Com isto [e sob o manto cínico de estarem protegendo o patrimônio público] os dirigentes da ANP objetivaram intimidar a reação da sociedade brasileira contrária aos leilões e favoráveis às mudanças no atual marco regulatório.

Conforme destacou a AEPET, em ofício enviado ao presidente Lula, em novembro último, para que prevaleça o interesse nacional no setor petrolífero, é necessário modificar a Lei 9478/97, pois esta é incoerente e inconstitucional. Nos seus artigos 3º, 4º e 21, a referida lei diz que as jazidas e o produto da lavra do petróleo são da União, mas o seu artigo 26, contrariando os artigos citados e a própria Constituição, diz que o petróleo é de quem o produzir.

É paradoxal que as nossas autoridades permitam que a ANP prossiga com os leilões, uma vez que a Comissão Interministerial está fechando os trabalhos para apresentar propostas ao Governo Federal de revisão do atual marco regulatório. Conforme noticiou a imprensa, na terça-feira (16/12), o governo não tem interesse com o seguimento da Oitava Rodada [cancelada desde 2006] dentro das regras atuais de concessão. Então, o que há de especial com a 10ª Rodada? É depredação prosseguir com os leilões, sob quaisquer circunstâncias e, pior ainda, dentro do atual marco regulatório.

Só por estes aspectos, fica constatado que os verdadeiros depredadores do patrimônio público estão na ANP, nos leilões e com quem mais concordar com a entrega do petróleo brasileiro. E ainda: os responsáveis deverão pagar pelas agressões [selvageria] cometidas sobre os verdadeiros defensores do patrimônio público, que são os petroleiros, as lideranças do Sindipetro-RJ e demais militantes de entidades da sociedade brasileira que arriscaram sua integridade física em defesa do nosso petróleo (óleo e gás).



www.apn.org.br

É permitida (e recomendável) a reprodução desta matéria, desde que citada a fonte.

segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

Mas Que Natal Estúpido

Mas que Natal estúpido

Por Rafael Viana

http://pseudocontos .blogspot. com/

Feliz Natal.

Nos jornais, junto com os pães e os brioches entregues na área nobre da cidade por algum jovem trabalhador, o sangue escorre pela tinta da matéria em destaque. A classe média não liga, o sangue dos pobres lhe é invisível, mas as promoções no caderno secundário parecem-lhe atraentes.

Feliz Natal.

No canto onde os olhos dos transeuntes não alcançam, no encontro das duas avenidas centrais do centro da cidade, um remanescente do século XIX perambula à procura de comida, de esmolas; os pedestres não olham. Estão cegos com as promoções e os letreiros de natal.

Num cartão de natal, encomendado por um oficial do alto escalão da polícia militar do estado do Rio de Janeiro, e enviado a diversas autoridades, um papai noel aparece fardado e exibe um fuzil ao lado de um blindado apelidado carinhosamente de caveirão. Uma criança negra brinca sobre o blindado. O cinismo é um pré-requisito indicado no terceiro ponto do edital do concurso de acesso à polícia militar; consta em ata e foi lavrado por um especialista em concursos públicos.



No mundo da ficção o natal é diferente. Na ficção chamada favela, especificamente no Parque União, quatro famílias ganharam um presente inusitado: quatro caixões de madeira; o presente foi entregue pela Polícia Militar via aparelho de Estado.

No complexo de favelas da Maré as faixas contra o assassinato de jovens e moradores não precisam ser trocadas, são úteis em qualquer época do ano, reciclam-se apenas os carrascos e os mortos.

De madeira também é feito o presépio que ostenta um dos salões principais do Copacabana Palace. Para apreciá-lo o visitante deve pagar a modesta quantia de 35.520 reais. O pacote inclui acomodações, café da manhã e acesso livre à sauna(seca ou a vapor), à quadra de tênis e permite o usufruto das dependências do hotel no dia da noite de natal.

A consciência fica por conta do hóspede.

Na área mais insalubre da zona oeste da cidade, numa ocupação sem-teto, quatorze famílias não dormem, a ordem de despejo estava prevista para dezembro, mas fora adiada para a primeira semana de janeiro. Pois até os carniceiros precisam descansar.

No corredor de um shopping as pessoas se agitam, os corpos dizem: "nós não temos culpa!" e as mentes apenas apertam os botões.

Na tv alguém diz que o consumo precisa aumentar, na calçada de um prédio dois homens ousam dizer que a pobreza não é culpa da sociedade, mas apenas dos pobres.

Na padaria entre um gole de café, algum iludido ainda acredita no Natal, o cristianismo parece lei, apesar de existirem outras cem religiões.

As crianças se animam por um mito transformado em mercadoria. Papai Noel era azul, até conhecer os executivos da Coca-Cola.

Em alguma fronteira esquecida, entre o asfalto e a favela, crianças se amontoam e vendem balas no sinal; não comemoram o Natal pois não sabem ler, nem os calendários comemorativos nem as datas religiosas.

No século XIV as missas eram rezadas em latim, ninguém entendia além de Deus.

No retrato estampado numa barbearia, a representação européia de Jesus tornou-o branco e ele ganhou olhos azuis. Mas um registro secreto encontrado numa expedição arqueológica no sul da Síria, revelou que Jesus era negro e mulher.

Num depósito de gente e de lixo, um grupo de catadores encontrou sua ceia de natal esparramada no que o capitalismo rejeitou. A noção de higiene não existia na Idade Medieval: os palácios não possuíam banheiros e as fezes eram jogadas pelas janelas; a nobreza era suja, tal como hoje.

Entre a ficção e a realidade, a noção de justiça e humanidade não existem no século XXI, a higiene moral e econômica perdeu-se no bolso de um descuidado, diante da noite do dia 25.

Feliz Natal estúpido, estúpido!


--
De um homem nunca se deve pedir o voto, mas ação, iniciativa e luta.

sábado, 27 de dezembro de 2008

Discurso Gravado para Conferência de Fundação da IV Internacional

Discurso Gravado para Conferência de Fundação da IV Internacional

Leão Trotsky

1938

Espero que desta vez a minha voz chegue para poder assim participar desta dupla celebração de vocês. Ambos acontecimentos, o décimo aniversário de nossa organização norte-americana e o congresso de fundação da Quarta Internacional, são incomparavelmente mais dignos da atenção dos operários que as gesticulações belicosas dos chefes totalitários, as intrigas diplomáticas ou os congressos pacifistas. Os dois fatos passarão a ser importantes marcos históricos.

É necessário notar que o surgimento do grupo norte-americano de bolcheviques leninistas, devido a valente iniciativa dos camaradas Cannon, Shachtman e Abern, não foi um fato isolado. Coincidiu aproximadamente com o começo do trabalho internacional sistemático da Oposição de Esquerda que surgiu na Rússia em 1923, mas a tarefa regular em escala internacional começou com o Sexto Congresso do Comintern. Sem que tivéssemos um encontro pessoal entre nós, chegamos a um acordo com os pioneiros norte-americanos da Quarta Internacional, antes de tudo, acerca da crítica ao programa da Internacional Comunista. E em 1928 começou o trabalho coletivo que, depois de dez anos, levou à elaboração do programa recentemente adotado em nossa conferência internacional. Temos direito a afirmar que nesta década fomos persistentes, pacientes e honestos. Os bolcheviques leninistas, os pioneiros internacionais, nossos camaradas de todo o mundo, buscavam o caminho da revolução, como genuínos marxistas, não em seus sentimentos e desejos, mas na análise da marcha objetiva dos acontecimentos. Sobretudo, guiava-nos a preocupação de não enganar aos demais nem a nós mesmos. Investigamos séria e honestamente e encontramos algumas coisas importantes. Os fatos confirmaram tanto nossas análises como nossos prognósticos. Ninguém pode negá-los. Agora é necessário permanecermos fiéis a nós mesmos e ao nosso programa. Não é fácil. As tarefas são tremendas, os inimigos inumeráveis...

Queridos amigos, não somos um partido igual aos outros. Nossa ambição não se limita a ter mais filiados, mais jornais, mais dinheiro, mais deputados. Tudo isso faz falta, mas não é mais que um meio. Nosso objetivo é a total libertação material e espiritual dos trabalhadores e dos explorados através da revolução socialista. Se nós não a fizermos, ninguém a preparará, nem a dirigirá.

As velhas internacionais – a Segunda, a Terceira, a de Amsterdã, podendo-se acrescentar também o Birô de Londres – estão completamente apodrecidas. Os grandes acontecimentos que vive a humanidade não deixarão pedra sobre pedra destas organizações que ainda sobrevivem. Só a Quarta Internacional olha com confiança o futuro. É o partido mundial da revolução socialista! Jamais houve um objetivo tão importante. Sobre cada um de nós recai uma tremenda responsabilidade histórica. O partido exige-nos uma entrega total e completa. Que os filisteus continuem buscando sua própria individualidade no vazio; para um revolucionário, doar-se inteiramente ao partido significa encontrar a si mesmo. Sim, nosso partido nos toma por inteiro. Mas, em compensação, nos dá a maior das felicidades, a consciência de participar da construção de um futuro melhor, de levar sobre nossas costas uma partícula do destino da humanidade e de não viver em vão. A fidelidade à causa dos trabalhadores exige-nos a mais alta fidelidade ao nosso partido internacional.

O partido, certamente, também pode se equivocar. Com o esforço comum corrigiremos os erros. Elementos poucos valiosos podem se infiltrar em suas fileiras. Com o esforço comum os eliminaremos. As milhares de pessoas que entrem amanhã em suas fileiras provavelmente careçam da educação necessária. Com o esforço comum, elevaremos seu nível revolucionário. Porém, nunca esqueçamos que nosso partido é agora a maior alavanca da história. Separados desta alavanca, cada um de nós não é nada. Com esta alavanca nas mãos, somos tudo. Não somos um partido como os outros. Não é à toa que a reação imperialista nos persegue furiosamente e a camarilha bonapartista de Moscou se previne com assassinos de aluguel.

Nossa jovem internacional já possui muitas vítimas. Na União Soviética se contam aos milhares. Na Espanha, às dezenas. Nos outros países, por unidades. Neste momento, nos lembramos de todos, com gratidão e amor. Seus espíritos continuam a luta conosco. Os carrascos, conduzidos por sua estupidez e cinismo, acreditam que seja possível atemorizar-nos. Enganam-se! Os golpes nos tornam mais fortes. A selvagem política de Stalin não é mais que uma política desesperada. Podem matar alguns soldados de nosso exército, mas não atemorizá-los.

Amigos, repitamos novamente neste dia de celebração: não podem nos atemorizar. A camarilha do Kremlin precisou de dez anos para estrangular o Partido Bolchevique e transformar o primeiro Estado Operário em uma sinistra caricatura. A Terceira Internacional necessitou de dez anos para abandonar seu próprio programa, convertendo-se em um cadáver apodrecido. Dez anos! Só dez anos!

Permitam-me concluir com uma profecia: durante os próximos dez anos, o programa da Quarta Internacional se transformará no guia de milhões de pessoas, e estes milhões de revolucionários saberão como mover o céu e a terra.

Viva o Partido Socialista Trabalhadores dos Estados Unidos!

Viva a Quarta Internacional!

México, 1938

quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

Por ordem da ANP, militantes são espancados e presos durante manifestação no Rio contra leilão do petróleo

Por ordem da ANP, militantes são espancados e presos durante manifestação no Rio contra leilão do petróleo

Fonte: Agência Petroleira de Notícias

Veja fotos da atividade em www.apn.org. br


Cerca de 50 feridos e três pessoas detidas.

Esse é o saldo – até agora computado - deixado pela violenta reação da Polícia Militar do Rio de Janeiro e da Guarda Municipal, durante uma manifestação pacífica, por volta de meio dia, nesta quinta, 18, na Avenida Rio Branco, em protesto contra a 10ª Rodada de Licitação do Petróleo.

Depois de receberem uma ordem de despejo, ontem à noite (17) para desocupar o Edifício Sede da Petrobrás, no Rio, os manifestantes – cerca de 500 pessoas - dirigiram-se para a Candelária, que fica perto da Agência Nacional do Petróleo (ANP), responsável pela realização dos leilões das áreas petrolíferas.

Em seguida, a manifestação prosseguiu pela Avenida Rio Branco, em direção à Cinelândia.A violenta reação da Polícia Militar e da Guarda Municipal surpreendeu os manifestantes que foram espancados durante toda a caminhada pela Avenida Rio Branco.

Até agora os organizadores da manifestação, convocada pelo Fórum Nacional contra a Privatização do Petróleo e Gás, que reúne dezenas de entidades, confirmam a detenção de três pessoas: Emanuel Cancella, coordenador do Sindicato dos Petroleiros do Rio de Janeiro (Sindipetro- RJ); Gualberto Tinoco (Piteu), da Coordenação Nacional de Lutas (Conlutas): Thaigo Lúcio Costa, estudante de jornalismo da Universidade de Santa Cecília, de Santos.

Dentre os feridos, está hospitalizado, com um corte na cabeça, no Souza Aguiar, o diretor do Sindipetro-RJ Eduardo Henrique Soares da Costa.

Um militante do MST quebrou o braço, ao ser espancado pela PM. As entidades que compõem o Fórum ainda estão fazendo o levantamento do número de feridos e estão tentando localizá-los. Muitos ainda não foram encontrados.

Desde a ordem de despejo, vinda da presidência da Petrobrás, ontem à noite, os manifestantes sentiram a animosidade das forças de repressão, mas não esperavam ação tão agressiva, contra uma simples manifestação de protesto. Um dos detidos, o coordenador do Sindipetro-RJ, Emanuel Cancella, declarou: “Nós acabamos de viver um momento que remonta à sombria época da ditadura militar. O Capitão Moreira me deu ordem de prisão, mesmo eu dizendo que era advogado. Ele bateu muito em mim. Algemou o Pitel e o estudante e os policiais feriram gravemente nosso companheiro Eduardo Henrique”.

Emanuel Cancella está com um braço fraturado e costelas. Por de 14 horas estava concluindo o seu depoimento na 1ª DP, na Rua Relação, 42. Logo seria encaminhado para exame de corpo delito. A partir das 14h30, a Rádio Petroleira transmitirá flashes ao vivo.

Participavam da manifestação no Rio, parte de uma jornada de Lutas pela suspensão do leilão do petróleo, iniciada desde o dia 14 – no dia 15, houve a ocupação do Ministério das Minas e Energia, em Brasília, pela Via Campesina e petroleiros – representantes de dezenas de entidades que compõem o Fórum, dentre as quais: Sindipetro-RJ, Sindipetro-Litoral Paulista, MST (Movimento dos Trabalhadores Sem Terra) , MTD (Movimento dos Trabalhadores Desempregados) , FIST (Federação Internacionalista dos Sem Teto), FOE (Frente de Oposição de Esquerda da União Nacional dos Estudantes), as centrais sindicais Conlutas, Intersindical e CUT, a Federação Única dos Petroleiros (FUP), a Frente Nacional dos Petroleiros (FNP), o Centro Estudantil de Santos, movimentos de estudantes secundaristas do Rio de Janeiro.

A campanha “O Petróleo Tem que ser nosso” continua.

Contatos: (21) 76617258, Joba (MST); Marcelo Durão (21) 96847750; (21) 9963-3605, Francisco Soriano (Sindipetro- RJ); Moraes 21-76741786 (FUP).www.apn.org. brÉ permitida (e recomendável) a reprodução desta matéria, desde que citada a fonte.

domingo, 7 de dezembro de 2008

O Triunfo de Estaline

Leão Trotski

25 de Fevereiro de 1929

Estaline foi eleito secretário geral em vida de Lenine, em 1922. Nessa época o cargo tinha um caráter mais técnico que político. Contudo, nesse então Lenine já se opunha à candidatura de Estaline. Foi precisamente neste sentido que falou de um cozinheiro amante dos pratos picantes. Porém cedeu ante as posições de outros membros do Buró Político, ainda que com escasso entusiasmo. "Provaremos e veremos."

A enfermidade de Lenine provocou uma mudança total na situação. Até esse momento ele, à cabeça do Buró Político, tinha nas suas mãos a alavanca central do poder. O segundo nível de trabalho, a posta em prática das resoluções principais, foi confiado ao secretário geral Estaline. Todos os demais membros do Buró Político se ocupavam das suas respectivas funções específicas.

Ao desaparecer Lenine da cena, a alavanca central caiu automaticamente em mãos de Estaline. Considerou-se que era uma situação provisória. Ninguém propôs mudança alguma, porque todos esperavam uma rápida recuperação de Lenine.

Durante essa época Estaline se moveu febrilmente para escolher os seus amigos e fazê-los escalar posições no aparato. Quando Lenine se recuperou de seu primeiro ataque e voltou por um tempo ao trabalho, em 1922-1923, ficou horrorizado ao ver até que ponto se tinha burocratizado o aparato e quão omnipotente parecia em relação à massa partidária.

Enquanto insistia em que fosse eu seu substituto no Conselho de Comissários do Povo, Lenine discutiu comigo a forma de travar uma luita conjunta contra o burocratismo de Estaline. Havia que fazê-lo de maneira tal que o partido sofresse a menor quantidade possível de convulsões e choques.

Mas a saúde de Lenine voltou a piorar. No seu chamado testamento, escrito em 4 de Janeiro de 1923, aconselhou insistentemente o partido que se sacasse Estaline do poder central devido a sua deslealdade e sua tendência ao abuso do poder. Porém uma vez mais Lenine teve que ir de novo a seu leito de enfermo. Renovou-se o acordo provisório de manter Estaline no leme. Ao mesmo tempo, as esperanças de que Lenine se recuperasse se desvaneciam rapidamente. Ante a perspectiva de que deveria abandonar definitivamente o seu trabalho, foi plantado outra vez o problema da direção do partido.

Nesse momento, as diferenças de tipo principista ainda não cristalizaram. O grupo dos meus adversários tinha um carácter puramente pessoal. O santo e senha de Zinoviev, Estaline e Cia. era: "Não permitamos que Trotski assuma a direção do partido." No transcurso da luita posterior de Zinoviev e Kamenev contra Estaline, os segredos deste período anterior foram revelados polos mesmos protagonistas da conspiração. Porque se tratava de uma conspiração.

Se criou um Buró Político secreto (o Setemvirato) integrado por todos os membros do Buró Político menos eu, com o agregado Kuibishev, no tempo presente presidente do Conselho Supremo da Economia Nacional. Todos os problemas se resolviam de antemão neste centro secreto, cujos integrantes estavam juramentados. Acordaram não polemizar entre si e ao mesmo tempo procurar oportunidades para atacar-me. Nas organizações locais existiam centros semelhantes, vinculados ao Setemvirato de Moscovo por uma rígida disciplina. Comunicavam-se através de códigos especiais. Tratava-se de um grupo clandestino, bem organizado, no seio do partido, dirigido em princípio contra um homem. As pessoas destinadas a ocupar cargos de responsabilidade no partido e no estado eram escolhidas segundo um critério único: a oposição a Trotski.

Durante o dilatado "interregno" criado pola enfermidade de Lenine, este trabalho se realizou sem pausa, mas ainda em forma cautelosa e oculta, de jeito que, na eventualidade de que Lenine se recuperasse, as pontes minadas se dessa maneira se engendrou um novo tipo de arrivismo, que mais tarde adquiriu o nome público de "antitrotskismo". A morte de Lenine deixou-lhes as mãos livres aos conspiradores e lhes permitiu sair à luz.

Os militantes do partido que alçavam a sua voz para protestar contra a conspiração, viam-se submetidos a ataques arteiros com os pretextos mais descabelados, muitas vezes inventados. Por outra parte, certos elementos moralmente instáveis, desses que nos cinco primeiros anos do poder soviético houvessem sido expulsos implacavelmente do partido, agora adquiriam sua apólice de seguro em troca de algumas observações hostis a respeito de Trotski. A partir de fins de 1923 começou-se a realizar esse mesmo trabalho em todos os partidos da Comintern: alguns dirigentes foram destronados e outros ocuparam seus postos unicamente em virtude de sua atitude ante Trotski. Realizou-se um processo de seleção árduo e artificial, não se elegia os melhores, mas os mais acomodados. A táctica geral consistia em substituir pessoas independentes e talentosas por medíocres que deviam a sua posição exclusivamente ao aparato. E a máxima expressão dessa mediocridade de aparato chegou a ser o próprio Estaline.

Até fins de 1923 as três quartas partes do aparato já estavam escolhidas e alienadas, prontas para levar a luita à base do partido. Tinham-se preparado armas de todo o tipo e só se aguardava o sinal para atacar. Então deu-se o sinal. As duas primeiras campanhas de "discussão" contra mim, no outono de 1923 e no de 1924, coincidiram com épocas em que eu me encontrava enfermo, o que me impedia de falar ante as reuniões partidárias.

Sob a furibunda pressão do Comitê Central, as bases começaram a ser atacadas de todos os ângulos de uma vez. As minhas velhas diferenças com Lenine, anteriores não só à revolução mas também à guerra mundial, e desaparecidas havia muito tempo no nosso trabalho conjunto, sacavam-se a súbitas à luz do dia, distorcidas, exageradas, e as apresentava ante as bases partidárias novas como se se tratasse das questões mais prementes. As bases ficaram desconcertadas, em mau estado, intimidadas. Ao mesmo tempo, começou-se a empregar num degrau mais baixo o método de seleção de pessoal. Agora já não se podia ocupar um posto de administrador de fábrica, secretário de um comitê de oficina, presidente de comitê executivo de um condado, portador de livros ou secretário de actas se não se possuíam credenciais de antitrotskismo.

Evitei esta luita enquanto me foi possível, já que não era mais que uma conspiração sem princípios dirigida contra minha pessoa, ao menos nas suas primeiras etapas. Para mim estava claro que essa luita, apenas se estalasse, adquiriria inexoravelmente um caráter muito grave e, nas condições criadas pola ditadura revolucionária, poderia ter conseqüências perigosas. Não corresponde discutir aqui se foi acertado tratar de manter um terreno comum sobre o qual pudesse trabalhar conjuntamente, ao preço de enormes concessões pessoais, ou se eu deveria ter assumido a ofensiva desde o princípio, apesar de carecer de motivos políticos suficientes como para realizar semelhante acção. O certo é que escolhi aquele caminho e, apesar de tudo, não me arrependo. Há triunfos que conduzem a becos sem saída, e há derrotas que abrem novos caminhos.

Inclusive depois de que as profundas diferenças políticas saíram à luz, deslocando a intriga pessoal a um segundo plano, tratei de manter a pugna dentro dos marcos de uma discussão principista e de evitar ou impedir que se forçasse uma decisão, para permitir assim que as opiniões e prognósticos em conflito pudessem corroborar-se à luz dos factos e das experiências.

Em compensação, Zinoviev, Kamenev e Estaline, o que ao princípio se ocultava atrás dos dous primeiros, trataram com todas as suas forças de forçar uma decisão. Não tinham o menor desejo de que o partido tivesse tempo de meditar sobre as diferenças e corroborá-las à luz da experiência. Quando Zinoviev e Kamenev romperam com Estaline, este automaticamente dirigiu contra eles a mesma campanha de calúnias anti "trotskistas", com toda a sua abrumadora força de inércia, que os três tinham desenvolvido juntos durante um lapso de três anos.

Esta não é uma explicação histórica da vitória de Estaline, mas um mero esboço de como se conseguiu a essa vitória. Tampouco se trata de um protesto contra a intriga. Uma linha política que procura as causas da sua derrota nas intrigas do seu adversário é uma linha cega e patética. A intriga é um aspecto técnico específico da realização de uma tarefa; só pode desempenhar um papel subordinado. O que resolve os enormes problemas da sociedade é a acção das grandes forças sociais, não as manobras mesquinhas.

O triunfo de Estaline, com toda a sua instabilidade e incerteza, é a expressão de mudanças importantes que se tem produzido nas relações entre as classes na sociedade revolucionária. É o triunfo ou semitriunfo de determinadas camadas ou grupos sobre outros. É o reflexo das mudanças produzidas na situação internacional no transcurso dos últimos anos. Mas estes problemas são de tal envergadura que requerem uma análise especial.

A esta altura só se pode dizer uma cousa. A imprensa mundial, hostil ao bolchevismo, apesar de todos os erros e confusões que contém sua avaliação das distintas etapas e acontecimentos da luita interna na URSS, conseguiu em geral chegar ao miolo social dessa luita: a vitória de Estaline é a vitória das tendências mais moderadas, conservadoras, burocráticas, partidárias da propriedade privada e estreitamente nacionalistas, sobre as tendências que apóiam a revolução proletária internacional e as tradições do Partido Bolchevique. Nesse sentido não tenho a menor queixa a respeito dos louvores do realismo estalinista que aparecem, com tanta freqüência na imprensa burguesa. Até que ponto será sólido e duradouro esse triunfo, e qual será o rumo futuro dos acontecimentos, é farinha dum outro saco.

quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

Uma Carta à Juventude

* Vamos começar uma série de textos de pensadores marxistas históricos. Começaremos por Léon Trotsky, revolucionáro russo, fundamental para a Revolução de Outubro, comissário de Guerra dirigiu o Exército Vermelho à vitória na guerra civil russa e sobre a invasão imperialista da Russa Soviética. Ajudou a criar e dirigiu a Oposição de Esquerda a Stalin. Desenvolveu a teoria da Revolução Permanente e fundou a 4ª Internacional. Trotsky está fundalmente presente na minha formação, suas obras são grandes guias da minha linha militante e por isso começaremos por ele.

Boa leitura!



Uma Carta à Juventude


Leon Trotsky - 1938



Um partido revolucionário deve necessariamente basear-se na juventude. Inclusive, podemos dizer que o caráter revolucionário de um partido pode ser julgado pela sua capacidade de atrair para suas bandeiras a juventude da classe operária.

O atributo básico da juventude socialista e tenho em mente a juventude genuína e não os velhos de 20 anos reside na disposição de entregar-se total e completamente à causa da socialista. Sem sacrifícios heróicos, valor, decisão a história em geral não se move para frente. Porém o sacrifício somente não é o suficiente. É necessário ter uma clara compreensão do curso dos acontecimentos e dos métodos apropriados para a ação. Isso somente pode ser obtido por meio da teoria e da experiência vivida.

O mais contagiante entusiasmo rapidamente esfria-se ou evapora se não encontra uma clara compreensão das leis do desenvolvimento histórico. Freqüentemente, observamos como os jovens entusiastas, ao dar uma cabeçada na parede convertem-se em sábios oportunistas; como ultraesquerdistas desenganados passam em curto tempo a ser burocratas conservadores, assim como pessoas fora da lei se corrigem e se convertem em excelentes policiais. Adquirir conhecimento e experiência e ao mesmo tempo não dissipar o espírito lutador, o auto-sacrificio revolucionário e a disposição de ir até o final, esta é a tarefa da educação e da auto-educação da juventude revolucionária.

terça-feira, 2 de dezembro de 2008

Uma Entrevista com Leon Trotsky



* Uma entrtevista excepcional com o grande Trotsky à Mateo Fossa, pela "Tribuna Internacional" na sua primeira edição, em 23 de setembro de 1938. Entrevista que mantém boa atualidade, grandes analises da conjuntura mundial e as perspectivas de ações revolucionárias por parte do proletariado mundial.

Boa Leitura a tod@s!!


Mateo Fossa
23 de Setembro de 1938

Fossa: Qual será, em sua opinião o desenvolvimento futuro da situação atual na Europa?

Trotsky: É possível que também nessa ocasião a diplomacia possa chegar a um desonroso compromisso. Mas ele não durará muito tempo. A guerra é inevitável em um futuro muito próximo. Uma crise internacional segue a outra. Suas convulsões são as dores do parto da guerra que se aproxima. Cada novo paroxismo terá um caráter mais severo e perigoso. Atualmente não vejo nenhuma força no mundo que possa deter o desenvolvimento desse processo, ou seja, o início da guerra. Uma terrível matança avança inexoravelmente em direção à humanidade.

Naturalmente, uma ação revolucionária oportuna por parte do proletariado internacional poderia paralisar o serviço de rapina dos imperialistas. Mas nós devemos encarar a realidade. As massa trabalhadoras da Europa, em sua imensa maioria, estão sob a direção da Segunda e Terceira internacionais (1). Os dirigentes da Internacional sindical de Amsterdã apoiam a política das direções da Segunda e Terceira Internacionais e estão a seu lado no que se chama "Frentes Populares" (2).

A política da Frente Popular como demonstram os exemplos de da Espanha, França e outros países consiste em subordinar o proletariado à ala esquerda da burguesia. Todavia toda a burguesia dos países capitalistas, tanto de direita como de "esquerda", está impregnada de chauvinismo e de imperialismo. A "Frente Popular" serve para transformar os operários em bucha de canhão para a sua burguesia imperialista. E para nada além disso.

A Segunda e Terceira Internacionais e a Internacional sindical de Amsterdã são atualmente organizações contra-revolucionárias, cuja tarefa é freiar e paralisar a luta revolucionária do proletariado contra o imperialismo "democrático". Enquanto a criminosa direção dessas internacionais não for derrotada, os operários serão impotentes para opor-se à guerra. Essa é a amarga mas indiscutível realidade. Nós devemos aprender a encará-la de frente e não nos consolarmos com ilusões e discursos pacifistas. A guerra é inevitável!
Fossa: Qual será o efeito da guerra sobre a luta da Espanha e sobre o movimento operário internacional?
Trotsky: Para compreender corretamente a natureza dos próximos acontecimentos devemos antes de ais nada demostrar a teoria falsa e completamente equivocada segundo a qual a próxima guerra será uma guerra entre o fascismo e a "democracia. Nada é mais falso e mais estúpido do que essa idéia. As "democracias" imperialistas estão divididas por causa das contradições dos seus interesses em todo o mundo. A Itália fascista pode facilmente passar para o lado da Grã-Bretanha e da França se ela deixa de acreditar na vitória de Hitler. A Polônia semi-fascista pode unir-se a um outro lado, de acordo com as vantagens que lhe serão oferecidas. No transcorrer da guerra a burguesia francesa pode substituir sua "democracia" pelo fascismo para manter a submissão dos operários e obrigá-los a lutar "até o fim".

A França fascista, assim como a frança "democrática", defenderá suas colônias com armas na mão. A nova guerra terá um caráter de rapina imperialista muito mais claro do que de 1914-18. Os imperialistas não lutam por princípios políticos, mas por mercados, colônias, matérias primas, pela hegemonia sobre o mundo e sobre suas riquezas.

A vitória de qualquer um dos campos imperialistas representaria a escravidão definitiva de toda a humanidade, o fortalecimento da submissão de colônias existentes, dos povos fracos e atrasados, entre eles os da América Latina. A vitória de qualquer um dos campos imperialistas representará a escravidão, a desgraça, a miséria, a decadência da cultura humana.

Qual é a saída, você me pergunta? Pessoalmente, não tenho dúvidas de que a nova guerra provocará uma revolução internacional contra a dominação das camarilhas imperialistas sobre a humanidade. Durante a guerra todas as diferenças entre "democracia imperialista" e o fascismo desaparecerão. Em todos os países uma ditadura militar impiedosa reinará. Os operários e camponeses alemães morrerão da mesma forma que os franceses e ingleses.

Os modernos instrumentos de destruição sã tão aperfeiçoados que a humanidade provavelmente não será capaz de resistir à guerra mais do que alguns meses. O desespero, a indignação, o ódio levarão as massas de todos os países em guerra a uma insurreição armada. A revolução socialista é inevitável. A vitória do proletariado mundial acabará com a guerra e resolverá dessa forma o problema espanhol, assim como todos os problemas atuais da Europa e de outras partes do mundo.

Esses "dirigentes" da classe operária querem atrelar o proletariado ao tanque de guerra do imperialismo, coberto com a máscara da "democracia", são hoje os piores inimigos e os traidores diretos dos trabalhadores. Nós devemos ensinar os operários a odiar e a desprezar os agentes do imperialismo, pois eles envenenam a consciência dos trabalhadores; nós devemos explicar aos operários que o fascismo é apenas uma das formas do imperialismo, que nós não devemos lutar contra os sintomas exteriores da doença mas contra suas causas orgânicas, ou seja, contra o capitalismo.

Fossa: Qual é a perspectiva para a revolução mexicana? Como você vê a desvalorização da moeda em relação com a expropriação das riquezas da terra?

Trosky: Eu não posso falar suficientemente em detalhes sobre essas questões. A expropriação da terra e das riquezas naturais é uma medida indispensável de defesa nacional para o México. Não satisfazendo as necessidades cotidianas do campesinato, nenhum país latino-americano poderá obter sua independência. A queda do poder de compra da moeda é um resultado do bloqueio imperialista contra o México, que já começou. As privações materiais são inevitáveis na luta. É impossível salvar-se sem sacrifícios. Capitular diante dos imperialistas significaria abandonar a riqueza natural do país à pilhagem e o povo à decadência e a extinção . Evidentemente as organizações operárias devem estar atentas para que o aumento do custo de vida não recaia fundamentalmente sobre os trabalhadores.

Fossa: O que você pode dizer sobre a luta de libertação dos povos da América Latina e sobre os problemas do futuro? Qual é a sua opinião sobre o aprismo? (3)

Trotsky: Eu não estou suficientemente a par da vida de cada um países da América Latina para poder dar uma resposta concreta às questões que você me apresenta. De qualquer maneira, me parece claro que as tarefas internas desses países não podem ser resolvidas sem uma luta revolucionária simultânea contra o imperialismo. Os agentes dos Estados Unidos, Inglaterra, França (Lewis, Jouhaux, Lombardo Toledano, os estalinistas) (4) tentam substituir a luta contra o imperialismo pela luta contra o fascismo. Nós temos observado os esforços criminosos feito por eles no recente congresso contra a guerra e o fascismo. Nos países da América Latina, os agentes dos imperialismos "democráticos" são particularmente perigosos, porque são mais capazes de enganar as massas que os agentes declarados dos bandidos fascistas. Eu tomarei o exemplo mais simples e mais demonstrativo.

Existe atualmente no Brasil um regime semi-fascista que qualquer revolucionário só pode encarar com ódio. Suponhamos, entretanto que, amanhã, a Inglaterra entre em conflito militar com o Brasil. Eu pergunto a você de que do conflito estará a classe operária? Eu responderia: nesse caso eu estaria do lado do Brasil "fascista" contra a Inglaterra "democrática". Por que? Porque o conflito entre os dois países não será uma questão de democracia ou fascismo. Se a Inglaterra triunfasse ela colocaria um outro fascista no Rio de Janeiro e fortaleceria o controle sobre o Brasil. No caso contrário, se o Brasil triunfasse, isso daria um poderoso impulso à consciência nacional e democrática do país e levaria à derrubada da ditadura de Vargas (5). A derrota da Inglaterra, ao mesmo tempo, representaria um duro golpe para o imperialismo britânico e daria um grande impulso ao movimento revolucionário do proletariado inglês. É preciso não Ter nada na cabeça para reduzir os antagonismos mundiais e os conflitos militares à luta entre o fascismo e a democracia. É preciso saber distinguir os exploradores, os escravagistas e os ladrões por trás de qualquer máscara que eles utilizem!

Em todos os países latino-americanos, os problemas da revolução agrária estão indissociavelmente ligados à luta anti-imperialista. Os stalinistas estão, hoje, buscando paralisar as duas lutas. Para o kremlin, os países latino-americanos são apenas pequenas moedas em seus negócios com os imperialistas. Stalin diz em Washington, Londres e Paris: "Reconheçam-me como um parceiro em condições de igualdade e eu ajudarei vocês a esmagar o movimento revolucionário nas colônias e semi-colônias; para isso tenho sob minhas ordens centenas de agentes como Lombardo Toledano". O stalinismo tornou-se lepra do movimento de libertação mundial.
Não conheço suficientemente o aprismo para dar sobre ele um parecer definitivo. No Peru, a atividade desse partido tem um caráter ilegal, e, consequentemente, é difícil observá-la. Os representantes do APRA no congresso de setembro contra a guerra e o fascismo reunido no México, adotaram, em minha opinião, uma posição digna e correta conjuntamente com os delegados de Porto Rico. A esperança é que o APRA não se torne uma presa do stalinismo, por que isso paralisaria a luta pela libertação no Peru. Eu creio que os acordos com os apristas em tarefas práticas bem definidas são possíveis e desejáveis, sob condição de uma completa independência organizativa.

Fossa: Que conseqüências terá a guerra para os países da América Latina?

Trotsky: Sem dúvida, os dois campos imperialistas tentarão envolver os países latino-americanos na guerra para, em seguida, reduzí-los à escravidão completa. O vazio palavrório "anti-fascista" somente prepara o terreno para os agentes de um dos campos imperialistas. Para prepararem-se para a guerra mundial, os partidos revolucionários da América Latina deveriam aproximar-se uns dos outros.

Em um primeiro período da guerra, a posição dos povos fracos pode tornar-se muito difícil. Porém, os campos imperialistas se enfraquecerão cada vez mais, mês após mês. A luta mortal entre eles permitirá aos países latino-americanos. Eles serão capazes de atingir sua completa libertação, se à frente das estiverem partidos e sindicatos verdadeiramente revolucionários, anti-imperialistas. Não se pode cair de circunstâncias históricas trágicas através de estratagemas, frases ocas ou pequenas mentiras. Nós devemos dizer a verdade às massas, toda a verdade e apenas a verdade.

Fossa: Quais são, em sua opinião, os métodos e as tarefas dos sindicatos?

Trotsky: Para que os sindicatos possam ser capazes de reunir, educar e mobilizar o proletariado para uma luta de libertação, eles devem libertar-se do métodos totalitários do stalinismo. É preciso abrir os sindicatos aos operários de todas as tendências, mantendo-se a disciplina na ação. Toda pessoa que transforma os sindicatos em uma arma destinada a fins exteriores (em particular com instrumento da burocracia stalinista e do imperialismo "democrático") divide inevitavelmente a classe operária, a enfraquece e abre as portas à reação. Uma completa e honesta democracia no interior dos sindicatos é a condição mais importante para a democracia no país.

Para terminar, eu peço a você que transmita minha saudação fraternal aos operários da Argentina. Sei que eles não acreditam nas desagradáveis calúnias que os agentes stalinistas fazem circular no mundo sobre minha pessoa e sobre meus amigos. A luta da IV Internacional contra a burocracia stalinista é uma continuação da grande luta histórica dos oprimidos contra os opressores, dos explorados contra os exploradores. A revolução internacional libertará todos os oprimidos, inclusive os trabalhadores da URSS.

Notas:

(1)- A Segunda Internacional foi organizada em 1889 como uma associação dos partidos social-democratas e operários, reunindo elementos revolucionários e reformistas. Seu papel progressivo encerrou-se em 1914, quando suas principais seções violaram os princípios socialistas internacionalistas mais elementares apoiando seus governos respectivos na guerra imperialista. Ela desapareceu durante a Primeira Guerra Mundial e foi ressuscitada como organização totalmente reformista em 1923.(retornar ao texto)

(2) - Internacional Sindical de Amsterdã era o nome pela qual era conhecida a Federação Internacional dos sindicatos de orientação social-demcrtata, com sede em Amsterdã.(retornar ao texto)

(3) - O APRA (Aliança Popular Revolucionária Americana) possuía em seu apogeu partidários em Cuba, México, Peru, Chile, Costa Rica, Haiti e Argentina. O Aprismo foi o primeiro movimento a lutar pela unidade latino-americana contra o imperialismo. O APRA elaborou um programa populista de 5 pontos: unidade de ação contra o imperialismo ianque; unidade da América Latina; industrialização e reforma agrária; internacionalização do canal do Panamá; solidariedade mundial de todos os povos e classes oprimidas. Depois o APRA degenerou, tornando-se um partido liberal, anti-comunista e agente do imperialismo ianque.(retornar ao texto)

(4) - John L. Lewis (1880-1969) foi presidente da United Mine Workers of América (sindicato dos mineiros) de 1920 até a sua morte. Ele dirigia a minoria do Conselho executivo da AFL e foi o principal fundador do CIO. Leon Jouhaux (1870-1954) foi secretário-geral da CGT francesa. Reformista, social-patriota, e colaboracionista de classes. Vicente Lombardo Toledano (1893-1968) stalinista, dirigia a Confederação dos Trabalhadores Mexicanos.(retornar ao texto)

(5) - Getulio Vargas (1883-1954) foi o presidente do Brasil de 1930 a 1945, declarou as greves ilegais fechou as publicações operárias e prendeu os dirigentes sindicais. Sua constituição elaborada em 1937 interditava à classe operária qualquer direito enquanto classe. Ele chegou novamente ao poder em 1950, havendo nesse período atritos com o imperialismo norte americano. Em 1954 Vargas suicidou-se.(retornar ao texto)

Fonte: http://www.marxists.org/portugues/trotsky/1938/09/23.htm

quinta-feira, 13 de novembro de 2008

Eleição norte-americana: "We can change" / Amenizando a crise imperialista


O triunfo de Obama e a nova tentativa de amenizar a decadência do imperialismo norte-americano

Retirado de artigos da Liga Estratégia Revolucionária - Quarta Internacional

Por Simone Ishibashi - sábado 8 de novembro de 2008

A arrasadora vitória de Obama nas eleições norte-americanas tem sido definida como um fato histórico ao eleger o primeiro presidente negro dos EUA. O candidato democrata Barack Hussein Obama, superou os índices de votação previstos, com 354 votos dos colégios eleitorais, contra 126 do candidato John McCain, levando estados que historicamente votam no Partido Republicano, como é o caso da Flórida, a se pronunciar em seu favor, além de também ter ganho em estados industriais como Ohio, mostrando haver conseguido apoio também na classe operária sindicalizada. Obama contou ainda com a esperada votação da população negra, dentre os quais 95% se pronunciaram por ele, e da votação dos jovens e da comunidade hispânica, que se contagiou pelo seu discurso de “mudança”, muito embora não tenha concretizado o que serão as prometidas mudanças. Isso num pleito cuja participação bateu recordes, com cerca de 136 milhões de eleitores, tendo em vista que nos EUA a participação nas eleições não é obrigatória. Para alguns, esta seria a maior participação desde 1908, quanto houve participação de 65,7% e culminou na vitória de Willian Traft sobre Willian Jannings Bryan. Fato é que Obama já conquistou o resultado eleitoral mais alto desde a eleição de Lydon Johnson em 1964.

Para além dos números, e da apologia que tomou conta dos meios de comunicação e jornais burgueses mundo afora, o que está por trás da vitória arrasadora de Obama é o repúdio generalizado à política levada à frente nos últimos oito anos pelos neoconservadores comandados por Bush, e o anseio por mudança expressado em diversas camadas da população norte-americana. O desastre da guerra do Iraque, o aumento sem precedentes do anti-americanismo no mundo, e a crise econômica, hoje o fator mais importante de todos, motivaram este anseio dentre os setores populares, muitos dos quais compostos por negros e latinos. Mas não foi apenas graças a estes que Obama conseguiu a vitória. Sua candidatura foi angariando apoio em setores concentrados da burguesia imperialista, dentre os quais constavam figuras como o magnata Warren Buffet, que cedeu grandes somas à sua campanha, bancos como Merry Linch – um dos envolvidos na imensa crise econômica atual –, instituições financeiras e grandes apostadores de Wall Street, bancos suíços, Collin Powell, ex-secretário de Estado de Bush, Paul Volcker, ex-presidente do Banco Central. E é para estes que seguramente Obama governará, e não para os americanos que a cada momento conhecem mais de perto a possibilidade de serem lançados em massa na pobreza, tal como ocorreu em 1929, como indicam os números de mais 240 mil postos de trabalho cortados no mês de outubro. É este cenário que faz com que muitos analistas, a despeito da comoção alimentada pela mídia burguesa, já adiantem que esta será uma das presidências de mais crise na história dos EUA.


Obama: forma e conteúdo

O grande efeito simbólico vindo do fato de que hoje um negro é presidente do país mais importante do mundo tem tido repercussão mundial. Assim, vimos o Quênia decretando feriado nacional, enquanto no Brasil diversos setores do movimento negro afirmam que a vitória de Obama seria um “passo a mais galgado” na luta contra o racismo. Sobretudo por se tratar de um país em que há poucas décadas o racismo era institucionalizado, negando direitos elementares aos negros, como os de votar, ocupar os mesmos espaços públicos que os brancos, além das imensas disparidades de condições de vida entre brancos e negros, com os últimos recebendo menos que a metade do salário que os brancos recebem para realizar o mesmo trabalho, o que gerou na década de 60 um movimento pela igualdade de direitos para os negros norte-americanos.

Entretanto, se por um lado o fato da população norte-americana, dentre os quais muitos foram às urnas pela primeira vez, ter se pronunciado em favor de um candidato negro ser um giro alimentado por aspirações legítimas distorcidas, e também contra a onda conservadora republicana, do ponto de vista da burguesia que o apoiou é uma mostra da imensa crise pela qual passa o imperialismo norte-americano, agudizada pelos anos Bush. É dessa forma, que frente à deslegitimidade e crescente crise que os EUA se vêem inseridos não só externamente como também no plano interno, antes por conta dos efeitos da guerra do Iraque e agora pela crise econômica que corroí a cada dia a esperança de realização do “sonho americano”, que a burguesia imperialista vê como funcional a eleição de Obama, justamente pelo simbolismo que este carrega, ao qual se alia o fato de que de conteúdo trata-se de um político afim aos setores mais altos do stablishment do Partido Democrata e de posições mais que moderadas. Isso fazia de Obama o melhor candidato para lidar com as possíveis contradições geradas pela crise econômica, com o descontentamento em torno dos preocupantes índices econômicos, e para reconstituir a localização dos EUA no mundo.

A política de Obama seguirá favorecendo a mesma burguesia branca e seus planos imperialistas, ainda que possa se caracterizar sob a forma de um discurso mais conciliador. Não à toa, Obama buscou se distanciar de seu pastor Jeremiah Wrigt quando este denunciava o caráter racista dos EUA, provando que ao contrário de chamar a população negra a lutar por seus direitos, buscará um caminho que privilegie a “moderação” no trato às imensas contradições sociais que cruzam o país, política funcional à classe dominante. No plano econômico isso se demonstra no fato de que frente ao imenso crescimento do desemprego, Obama apoiou o pacote desenhado pelo governo Bush de destinar 700 bilhões de dólares para salvar o sistema financeiro e os banqueiros, favorecendo os que lucraram bilhões nos últimos anos. Esta soma supera enormemente os 50 bilhões prometidos por ele em sus campanha para financiar um plano de obras públicas e incentivos à população na forma de bônus para os que estão ameaçados de perder suas casas frente ao estouro da bolha imobiliária. Seu discurso durante a campanha, que indicava medidas como o alívio fiscal para a classe média, torna-se de difícil realização na medida em que o mundo caminha para a recessão, e os EUA acumulam uma dívida pública de mais de 1 trilhão de dólares.

Neste sentido é que o jornal burguês The Washington Post, tradicional apoiador dos republicanos que desta vez se pronunciou pelo democrata, em um editorial no dia seguinte às eleições aconselhava Obama a “dizer muito rapidamente como irá concretizar as muitas promessas feitas na campanha, que agora deve se encerrar e dar lugar à realidade. E que para isso será necessário preparar o povo norte-americano para fazer sacrifícios, ter paciência e até mesmo se frustrar um pouco”. A preocupação do Post é altamente justificada. Se Obama foi favorecido enormemente pelo receio dos feitos da crise econômica, que fizeram com que a maioria da população norte-americana aspirasse a mais proteção social, manutenção dos empregos, assistência médica, e ajuda para a manutenção das moradias, etc, por outro lado a garantia da resolução da crise e assistência social estão longe de ser realidade. Assim, não se pode descartar que as grandes ilusões e expectativas geradas pelo primeiro presidente negro na história dos EUA se transformem em seu contrário: numa grande desilusão frente à não resolução das aspirações e demandas dos trabalhadores, negros e setores populares frente à crise econômica. Isso se soma ao fato de que mesmo com as imensas contradições e desastres abertos após os anos Bush, McCain teve cerca de 55 milhões de votos, o que mostra que a polarização social segue aberta, podendo se dinamizar ainda mais com o avanço da crise econômica sobre a classe média, e o discurso ultra-racista de alguns setores que seguem se organizando no interior dos EUA, desatando prováveis enfrentamentos frente à perspectiva de aumento do desemprego e das contradições sociais no país, lembrando ainda que os reacionários projetos anti-imigração, apoiados tanto pelo Partido Democrata como pelo Republicano seguem em prática.


Contradições no plano internacional

A vitória de Obama é um novo capítulo da tentativa da burguesia imperialista de amenizar os ritmos do processo de decadência histórica dos EUA. A primeira resposta tentada foi a política de impor pela força “um novo século norte-americano”, concretizada pelo governo Bush sobre a base do giro reacionário pós-11 de Setembro. Entretanto, esta tentativa de transformar o “momento unipolar” pós-derrocada da URSS em uma “situação unipolar” a partir do uso da força foi um fracasso em toda linha. Prova disso é a erosão relativa do poder norte-americano sobre o mundo, que mais recentemente se demonstrou com a crise gerada em torno do conflito entre a Rússia e Geórgia, no qual os EUA não conseguiram atuar em defesa de seu aliado georgiano, e muito menos conseguir atrair o apoio das demais potências imperialistas européias contra a Rússia.

Assim, Bush e os neoconservadores deixam como legado a guerra do Iraque, que muitos analistas avaliam que será lembrada como um erro muito maior que a guerra do Vietnã, e agora a maior crise econômica desde 1929. Se a fórmula dialética entre força e consenso na dominação imperialista definida por Perry Anderson mostrou nos últimos anos a predominância da força, agora frente à debilidade dos EUA que isso aprofundou parece que a burguesia imperialista aposta em aparecer como buscando mais consenso, ainda que neste caso não possamos ver em que medida isso se concretizará.

Soma-se a isso também a definição de que política terá em relação ao Irã, e à Israel já que sua declaração de estar disposto à negociar com o primeiro entra em contradição ao apoio incondicional ao enclave sionista no Oriente Médio. O novo presidente também já disse reiteradas vezes que pretende fortalecer a ocupação militar no Afeganistão e posicionar tropas na fronteira com o Paquistão, além de fortalecer o acordo político, estratégico e militar com o enclave imperialista no Oriente Médio, Israel, declarando em diversas ocasiões que “os inimigos de Israel são inimigos dos EUA”. Isso significa que a matança e opressão sistemática dos palestinos seguirá sendo financiada pelo governo norte-americano, além da manutenção de grande parte do imenso montante de dinheiro destinada às ofensivas militares dos EUA.

Frente a isso, setores minoritários mas interessantes não pronunciaram apoio a Obama, como Medea Benjamin, dirigente do grupo norte-americano feminista anti-guerra Code Pink, que afirma: “No início achei que estava sendo muito legal ter um candidato como Obama, que havia votado contra a Guerra do Iraque e estava mobilizando os jovens para participar da política. Mas ele se mostrou um candidato igual aos outros. Minhas desilusões começaram quando ele começou a mostrar um discurso militar muito mais forte. Hoje em dia já não acho que ele vai trazer os soldados de volta, que fará isso em um cronograma de 16 meses, como sempre disse. Ele fala do Afeganistão como guerra boa. O que é uma guerra boa? Ele defendia negociar com seus inimigos, mas agora é leve nessa questão”. (Folha de São Paulo, 04/11/2008). Outros setores poderão seguir a mesma trilha de desilusão com Obama no próximo período.

Esta tese se fortalece ainda mais conforme Obama anuncia os prováveis nomes para a composição de seu governo, que indicam que ao contrário da retórica de campanha, privilegiará a “velha política” do establishment norte-americano, não apenas com os já esperados conselheiros provenientes do governo Clinton, como John Podesta conhecido como Rhambo por sua maneira de fazer política, mas também com republicanos como que Robert Gates, cotado para fazer parte da equipe de defesa nacional de Obama, e que anteriormente foi diretor da CIA e Secretário de Defesa de ninguém menos que Bush. Assim, como coloca artigo da folhaonline inspirado no jornal norte-americano New York Times (8/11/2008): “A escolha destes nomes pode indicar que Obama, árduo crítico das políticas "falidas" de Bush, governará como ele na área de segurança nacional. Levanta dúvidas também se ele manterá uma das principais promessas de sua campanha, levar as tropas americanas no Iraque de volta para casa em até 16 meses. Outro legado de Bush a Obama será um novo acordo de permanência das tropas americanas no país, assinado diretamente com o governo iraquiano”.

Por outro lado, a apologética saudação dos principais governantes mundiais, como Sarkoy na Alemanha, Merkel na França, e dos meios de comunicação burgueses internacionais, como a mensagem de um renomado jornal alemão que estampou uma foto de Obama na capa sob os dizeres “Lidere o mundo rumo uma situação melhor”, mostra a contradição marcante de que frente à decadência histórica do imperialismo norte-americano, não há outra alternativa que se postule ao cargo de potência hegemônica. Entretanto é provável que esta saudação calorosa por parte dos governos imperialistas europeus dê lugar a maiores tensões no plano internacional, à medida em que a crise econômica avança, e se recrudesça a competição interestatal. Estamos diante um cenário de incertezas, cuja vitória de Obama não fecha por si mesma. A gravidade da crise econômica, que nas palavras de Alan Greespan é a “crise do século” anunciam terremotos que a retórica não pode solucionar, e demandas cada vez mais urgentes dos trabalhadores, negros e imigrantes de todo o mundo que só serão resolvidas no marco da ação independente destes mesmos setores. Apostemos nesta que é a única solução realista frente à crise atual.


As perspectivas após o triunfo de Obama (extraído do LVO 302. Por Claudia Cinatti)

(...) O grande desafio do governo de Obama pode provir do plano interno , frente à magnitude e pesada carga que implica a monumental crise econômica. Mais cedo que tarde as ilusões e expectativas dos trabalhadores, minorias de negros e latinos e os milhões que vêem sua subsistência ameaçada pela recessão, se chocariam com a realidade de que o governo de Obama não defenderá seus interesses, mas os das grandes corporações capitalistas.

A maioria dos setores “progressistas” que com mais ou menos entusiasmo chamou a votar em Obama, justificaram sua posição argumentando que seu governo será mais pressioável pelas lutas dos trabalhadores. Roosevelt nos anos 30, Kennedy nos 60 ou Obama em 2009 confirmaram mais de uma vez que para além da retórica “esquerdista” ou das políticas “populistas”, como o New Deal, o Partido Democrata junto com o Partido Republicano defende os interesses da burguesia imperialista. Basta recordar que na presidência de Kennedy os EUA invadiram Cuba, que o democrata Johnson incitou a guerra do Vietnã e que o próprio Roosevelt quando sua política de New Deal se demonstrou incapaz de revitalizar a economia norte-americana e se deu a crise de 1937, transformou o New Deal em “War Deal”, isto é, mudou o rumo econômico para os preparativos bélicos em 1938 para disputar a hegemonia mundial contra a Alemanha nazista e a Grã-Bretanha.

Foi esta “indústria de guerra” que efetivamente permitiu a recuperação da economia e aos EUA entrar na guerra e sair como única potência hegemômica em 1945, ainda que em nível mundial tenha compartilhado o domínio do mundo com a União Soviética. Dizemos isso ainda quando está por ver-se se Obama aplicará um giro significativo na política econômica nos marcos da defesa do regime burguês imperialista, Tampouco podemos descartar um giro claramente protecionista, como pode supor certa retórica eleitoreira do ex candidato e da composição majoritária democrata das duas câmaras do Congresso. Historicamente a estratégia do “mal menor” jogou a favor de que o Partido Democrata atue como contenção dos setores médios “progressistas” e das tendências à radicalização da vanguarda operária, como ocorreu no anos 30 com a cooptação por parte de Roosevelt do sindicalismo combativo da CIO ou a fins dos 60 com o movimento contra a guerra do Vietnã. Este tem sido um grande obstáculo para a independência política dos trabalhadores, que majoritariamente votam no Partido Democrata.

A profundidade da crise econômica e o novo período histórico que se abre provavelmente acelerem a experiência com o governo de Obama. As ilusões ou as expectativas frustradas podem se traduzir em luta de classes e na emergência de novos fenômenos políticos, como ocorreu nos anos 30 com o surgimento da CIO (primeiro Committee for Industrial Organization e a partir de 1937 Congress of Industrial Organization) que em poucos meses o CIO atraiu para suas fileiras milhares de trabalhadores empregados e desempregados, como os operários das automotrizes de Toledo em 1934 ou Teamster de Minneapólis. É certo que a história não volta a se repetir, mas também é certo que estamos em uma crise de uma magnitude histórica similar à que deu lugar aos processos mais agudos de radicalização da classe operária norte-americana. No próximo período está aberta a possibilidade de que a classe operária, que foi duramente golpeada desde a presidência Reagan, e que sofreu duras derrotas nos últimos 30 anos de ofensiva neoliberal, na qual sua representação sindical se reduziu a apenas 12% da força de trabalho recupere sua organização e que se abra a oportunidade para que os trabalhadores norte-americanos e as minorias oprimidas rompam com os partidos exploradores.