sexta-feira, 31 de outubro de 2008

SEMANA ANTIIMPERIALISTA – CONTRA O LUCRO, ACIMA DA VIDA

Divulgando - Fazendo Média - http://www.fazendomedia.com/2008/movimentos20081023.htm
Por Gilka Resende, da redação, e Rafael Duarte (*)

Entre os dias 12 e 18 de outubro aconteceu a Jornada de Lutas da Semana Antiimperialista, atividade unificada proposta durante o Encontro de Trabalhadores Latino-Americanos e Caribenhos (ELAC), realizado em julho último na cidade de Betim, Minas Gerais.

As principais reivindicações foram: retirada das tropas do Haiti, aumento geral dos salários, redução da jornada de trabalho e fim dos leilões de petróleo. Os manifestantes também protestaram contra as privatizações de empresas estatais, a mercantilização da educação e da saúde e a criminalização da pobreza e dos movimentos sociais. Também foi destaque o apoio ao povo boliviano e a luta pela soberania alimentar.


Protesto contra alta nos preços dos alimentos no Rio de janeiro

Na capital carioca as atividades se concentraram na quinta-feira, 16. O ato público Mulheres em Luta pela Soberania Alimentar escolheu a fachada de um supermercado da Rede Sendas para discutir a alta nos preços dos alimentos, chamando atenção de passantes. Alguns até se juntaram à manifestação.


Busca pelo lucro é responsável pela alta dos preços dos alimentos.



Foto: Leila Salles/ Pacs




“Os alimentos estão em alta porque sua comercialização está nas mãos destas empresas que só querem ganhar dinheiro, cada vez mais, à custa do prato de comida do povo. (...) Pagamos caro por uma crise que, ao contrário do que afirma o Governo Federal Lula e o Estadual Cabral, afeta-nos muito”, indicou trecho do documento divulgado pelas organizadoras. Um grande tapete lilás, cor que representa a luta feminista, foi estendido no chão. Nele, mensagens de crítica à atual lógica de produção e distribuição dos alimentos que gera exclusão no mundo.


A atividade defendeu o reconhecimento e o fortalecimento do trabalho das mulheres e a reforma urbana e agrária. Mulheres e homens, também presentes na manifestação pública, exigiram uma outra economia, que proporcione uma sociedade sem fome.


Mais duas manifestações de rua à tarde

Mulheres da Via Campesina, que também compuseram o ato da manhã, foram para Belford Roxo. Cerca de 300 integrantes fizeram outro ato público, dessa vez, em frente à sede da transnacional Bayer. Desde a entrada da cidade, os ônibus que levavam os manifestantes, vindos de diversas regiões do estado, foram escoltados pela polícia.


A atividade seguiu a linha política do protesto realizado mais cedo, denunciando o modelo de agricultura industrial controlado por grandes empresas transnacionais. Os presentes responsabilizaram esse modelo pela elevação do preço dos alimentos e pelo crescimento de famintos no mundo.

Mulheres em frente à Bayer. Foto: Rafael Duarte.


A Via Campesina defende a reforma agrária e uma política de apoio à agricultura familiar. “Queremos propor uma outra lógica de relação do homem com o campo. Defendemos a agroecologia. A Bayer é uma transnacional que monopoliza a produção de sementes, usa os venenosos agrotóxicos, rouba nossas riquezas e explora os trabalhadores brasileiros. Fizemos esse ato pois a Bayer representa tudo que combatemos” disse Eliana Souza, da direção estadual do MST.



Ato unificado contra a política imperialista

Simultaneamente, no Centro da cidade, representantes de diversas entidades saíram da Candelária em direção à Avenida Rio Branco, forte centro financeiro do Rio. A passeata intitulada Que os ricos paguem pela Crise Econômica! levou cerca de 350 pessoas a um extenso percurso. Por conta da multiplicidade de reivindicações, foram várias paradas em pontos simbólicos.

Após atravessarem a Rio Branco, professores e estudantes criticaram o Projeto Reuni (Programa de Apoio ao Plano de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais) em frente ao prédio do Ministério da Educação (MEC). O projeto foi aprovado, em 2007, em circunstâncias antidemocráticas, segundo os manifestantes. Os secundaristas, em maioria na manifestação, denunciaram a precariedade do ensino em suas escolas e a restrição ao Passe-Livre; nem todos têm acesso ao direito e, aos que têm, restam apenas 60 passagens.

“As Barcas S/A não liberaram nossa passagem hoje, por exemplo. Parece que os governantes pensam que a educação e a cultura só estão no caminho casa e escola. Não temos o direito de participar de uma manifestação? De ir ao museu, ao teatro? Um absurdo!”, reclamou Carine Vasconcellos, 16 anos, estudante do Colégio Pedro II, de Niterói. Os cerca de 150 secundaristas chegaram até o ato público por meio de ônibus intermunicipal, isso depois de pressionar a empresa de ônibus, contaram.

Em frente à Companhia Vale do Rio Doce, Marcelo Durão, do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), lembrou a Campanha pela re-estatização da empresa, ocorrida em 2007. Na ocasião, 94,5% dos 3,7 milhões de participantes disseram “não” a uma Vale entregue ao capital privado. A mineradora foi vendida, em 1997, por R$ 3,3 bilhões, sendo que seu valor estava orçado em mais de R$ 10 bilhões. “Essa empresa é responsável por grandes crimes ambientais e quase sempre sai imune. A Vale, que deveria ser do povo brasileiro, foi vendida por preço de banana. Ela tem até uma Agência de Inteligência, dentro deste prédio aí, que estuda as ações do MST”, disse Durão, relacionando o atual papel da empresa às políticas imperialistas.

A Embaixada dos Estados Unidos foi mais um ponto de parada. Lá, como não poderia deixar de ser, a principal pauta foi a crise financeira. “Nunca há dinheiro para a educação, para a saúde. Mas sempre há dinheiro para os banqueiros”, protestou Emanuel Cancella, secretário geral do Sindipetro-RJ. Depois, os militantes queimaram o “símbolo do império”, a bandeira estadunidense. “Estamos em frente à embaixada do país que é coração do imperialismo, em frente aos que se acham donos do mundo”, caracterizou, em cima do carro de som, Ciro Garcia, do PSTU.

A marcha foi pacífica. Apenas um pequeno estresse entre um guarda municipal, que ministrava o trânsito na altura do prédio da Vale, e alguns militantes. Uma jovem senhora loira não aceitava esperar a manifestação passar para sair com seu Pajero TR4. Nervosa, a motorista reclamou bastante com o guarda, que replicou aos militantes. Em menos de 10 minutos, ela saiu com seu carro de bancos de couro que custa, em média, R$75 mil. Na traseira, a frase “the car, the legend”, que significa “o carro, a lenda”. Com o valor do automóvel, os 150 secundaristas de Niterói pagariam 90 vezes a passagem de R$ 2,75 do ônibus intermunicipal, contando ida e volta.

O encerramento do ato Que os ricos paguem a Crise Econômica! ficou para as escadarias do Palácio Tiradentes, que sedia a Assembléia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj). As manifestações públicas que compuseram a Semana Antiimperialista contaram com a organização de diversas entidades e grupos políticos.

Entre eles: MST/ Via Campesina, Central de Movimentos Populares, Instituto Políticas Alternativas para o Cone Sul (Pacs), Assembléia Popular, Comitê Popular de Mulheres, CAMTRA, Movimento Direito Para Quem?, PSOL, Conlutas, Intersindical, PSTU, SEPE- RJ, DCEs da UERJ, UFF e UFRJ,Grêmios do Pedro II, Intersindical, MTST, Liberdade Lilás, PCB, Agroecologia e Luta Contra o Deserto Verde, Sindipetro-RJ, Marcha Mundial das Mulheres, Comissão Pastoral da Terra, Rede Jubileu Sul, entre outros.(*) Repórter da Agência Petroleira de Notícias.

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